Perplexidades de um ano sem fim

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Educação Física – Ensino Fundamental Anos Iniciais 1

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Guerra conjugal

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"O vampiro de almas.   ""Trinta contos, todos curtos, em que todos os homens são João, todas as mulheres, Maria. É um caleidoscópio com os mesmos vidrilhos coloridos que só mudam de posição e de relação, presos no Inferno pessoal da solidão a dois. O estupendo, o maravilhoso nos contos sucintos de Dalton Trevisan é sua captação agudíssima de todos os mitos populares, as frases-chavão: ""agora era dona casada e não podia conversar com qualquer homem"", ou ""procurei sempre trazer conforto para casa. Nunca fiz questão de despesa"". Elas são o metralhar contínuo da guerra dos sexos, essa ""Ilíada doméstica"", como o próprio escritor curitibano a chama. A grandeza de Dalton Trevisan está em dar à literatura urbana do Brasil talvez a mais insólita e pungente Seleções do Kitsch já reunida nas Américas. Dalton Trevisan coleciona os tabus e os ideais populares e traz para o leitor um álbum amarelecido, de fotografias cafonas e poses de cartão-postal colorido com purpurina. Quando um marido investe contra a esposa que o trai diante de suas próprias fuças, o melodrama latino hesita entre o riso e a lágrima: ""Investiu furioso, correu o amante, de joelho a mulher anunciou o fruto do ventre."" É toda uma subcul-tura de ""Ceia Sagrada"" de Leonardo da Vinci, de prata, entronizada sobre a mesa de jantar, que brota dessa frase; é toda a iconografia católica de mau gosto, de Virgens desfalecidas diante do Anúncio feito pelo Anjo, reproduzidas em estampas de vintém que aflora na mente popular e que o autor com sabedoria e dosagem perfeitas recolhe e engasta na sua rede do cotidiano que roça sempre pelo metafísico. O banal contém sempre uma ânsia de superar-se que frequentemente leva a uma trans-cendência do próprio prosaísmo. Só aparente-mente Dalton Trevisan é um naturalista: quando um João sente saudades da Maria de quem judiava, mistura sua angústia com o aspecto prático-nojento: ""Se não era ela, quem lhe espre-mia as espinhas das costas?"" Curitiba, irmã da Dublin de Joyce, é aquela viagem longa de um escritor perscrutando sua cidade por dentro, em suas motivações sublimes ou cruéis, injustiças sociais monstruosas e dedicações de uma fidelidade heroica nunca compensada, de sonhos nutridos por revistas femininas, por programas de rádio melosos e horóscopos mentirosos, Capricho e Ilusão que se revelam realidades sórdidas e macabras. Dalton Trevisan não registra apenas essa cornucópia de lubricidade insatisfeita, de mari-dos temerosos de serem assassinados com vidro moído na comida pelas companheiras que marti-rizam. Ele faz mais: adere inteiramente às crendices e códigos morais de suas personagens. Não há distanciamento no relato: é de nós, é de si mesmo que ele fala, é sobre sua condição de autoinspecionado que ele escreve. Modesta-mente, ele se acharia o último lambe-lambe da praça central de sua cidade, quando toda a sua esplêndida galeria de contos prova, livro após livro, que ele é o sutil e o mais poroso de todos os retratistas. É o fotógrafo que se identifica com o grotesco dos retratados, o rococó das poses refletido no rococó das frases retóricas, cápsulas do lugar-comum. O admirável autor de Morte na Praça, Guerra Conjugal, Cemitério de Elefantes, O Vampiro de Curitiba e O Pássaro de Cinco Asas não cabe na rotulação esquemática de ""um moralista"". E excetuando o Marquês de Sade, que escritor não é um moralista à sua maneira? (e talvez até o Divino Marquês tenha uma coerência ética imperceptível pelos padrões normais). Dalton Trevisan parece uma encarna-ção literária de Bosch: suas preocupações são todas religiosas, suas histórias desembocam sempre nos pecados capitais: a avance, a luxúria, o orgulho, a inveja. A recompensa maior destes quebra-cabeças propostos pelo autor está em seu mistério e na multiplicidade de suas interpretações. Dalton Trevisan é um Dante que atravessou o limbo ou um Lázaro que passou pela morte espiritual? São raros, em qualquer literatura, os autores que formulam à argúcia do leitor charadas perenes sobre o homem, eterno carrasco de quem o ama. Com Dalton Trevisan, finalmente, buscar essas adivinhações não é sinônimo de achá-las em textos estrangeiros. Elas estão aí, publicadas, em todas as livrarias, quem sabe até encomendáveis pelo reembolso postal? São álbuns de instantâneos do brasileiro, ser univer-salizado pelo estilo perfeito deste ""vampiro de almas"" e radiologista da psique deste povo feito de Joões e Martas amantes e desamados."" Leo-Gílson Ribeiro"
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Autores Dalton Trevisan
Número de páginas 188
Editora RECORD
Idioma PORTUGUÊS
ISBN 8501014966
Encadernação Brochura
Edição 12
Ano de Edição 1979
Tiragem 0
Descrição "O vampiro de almas.   ""Trinta contos, todos curtos, em que todos os homens são João, todas as mulheres, Maria. É um caleidoscópio com os mesmos vidrilhos coloridos que só mudam de posição e de relação, presos no Inferno pessoal da solidão a dois. O estupendo, o maravilhoso nos contos sucintos de Dalton Trevisan é sua captação agudíssima de todos os mitos populares, as frases-chavão: ""agora era dona casada e não podia conversar com qualquer homem"", ou ""procurei sempre trazer conforto para casa. Nunca fiz questão de despesa"". Elas são o metralhar contínuo da guerra dos sexos, essa ""Ilíada doméstica"", como o próprio escritor curitibano a chama. A grandeza de Dalton Trevisan está em dar à literatura urbana do Brasil talvez a mais insólita e pungente Seleções do Kitsch já reunida nas Américas. Dalton Trevisan coleciona os tabus e os ideais populares e traz para o leitor um álbum amarelecido, de fotografias cafonas e poses de cartão-postal colorido com purpurina. Quando um marido investe contra a esposa que o trai diante de suas próprias fuças, o melodrama latino hesita entre o riso e a lágrima: ""Investiu furioso, correu o amante, de joelho a mulher anunciou o fruto do ventre."" É toda uma subcul-tura de ""Ceia Sagrada"" de Leonardo da Vinci, de prata, entronizada sobre a mesa de jantar, que brota dessa frase; é toda a iconografia católica de mau gosto, de Virgens desfalecidas diante do Anúncio feito pelo Anjo, reproduzidas em estampas de vintém que aflora na mente popular e que o autor com sabedoria e dosagem perfeitas recolhe e engasta na sua rede do cotidiano que roça sempre pelo metafísico. O banal contém sempre uma ânsia de superar-se que frequentemente leva a uma trans-cendência do próprio prosaísmo. Só aparente-mente Dalton Trevisan é um naturalista: quando um João sente saudades da Maria de quem judiava, mistura sua angústia com o aspecto prático-nojento: ""Se não era ela, quem lhe espre-mia as espinhas das costas?"" Curitiba, irmã da Dublin de Joyce, é aquela viagem longa de um escritor perscrutando sua cidade por dentro, em suas motivações sublimes ou cruéis, injustiças sociais monstruosas e dedicações de uma fidelidade heroica nunca compensada, de sonhos nutridos por revistas femininas, por programas de rádio melosos e horóscopos mentirosos, Capricho e Ilusão que se revelam realidades sórdidas e macabras. Dalton Trevisan não registra apenas essa cornucópia de lubricidade insatisfeita, de mari-dos temerosos de serem assassinados com vidro moído na comida pelas companheiras que marti-rizam. Ele faz mais: adere inteiramente às crendices e códigos morais de suas personagens. Não há distanciamento no relato: é de nós, é de si mesmo que ele fala, é sobre sua condição de autoinspecionado que ele escreve. Modesta-mente, ele se acharia o último lambe-lambe da praça central de sua cidade, quando toda a sua esplêndida galeria de contos prova, livro após livro, que ele é o sutil e o mais poroso de todos os retratistas. É o fotógrafo que se identifica com o grotesco dos retratados, o rococó das poses refletido no rococó das frases retóricas, cápsulas do lugar-comum. O admirável autor de Morte na Praça, Guerra Conjugal, Cemitério de Elefantes, O Vampiro de Curitiba e O Pássaro de Cinco Asas não cabe na rotulação esquemática de ""um moralista"". E excetuando o Marquês de Sade, que escritor não é um moralista à sua maneira? (e talvez até o Divino Marquês tenha uma coerência ética imperceptível pelos padrões normais). Dalton Trevisan parece uma encarna-ção literária de Bosch: suas preocupações são todas religiosas, suas histórias desembocam sempre nos pecados capitais: a avance, a luxúria, o orgulho, a inveja. A recompensa maior destes quebra-cabeças propostos pelo autor está em seu mistério e na multiplicidade de suas interpretações. Dalton Trevisan é um Dante que atravessou o limbo ou um Lázaro que passou pela morte espiritual? São raros, em qualquer literatura, os autores que formulam à argúcia do leitor charadas perenes sobre o homem, eterno carrasco de quem o ama. Com Dalton Trevisan, finalmente, buscar essas adivinhações não é sinônimo de achá-las em textos estrangeiros. Elas estão aí, publicadas, em todas as livrarias, quem sabe até encomendáveis pelo reembolso postal? São álbuns de instantâneos do brasileiro, ser univer-salizado pelo estilo perfeito deste ""vampiro de almas"" e radiologista da psique deste povo feito de Joões e Martas amantes e desamados."" Leo-Gílson Ribeiro"
Código de Barras 9788501014962

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