Na famosa peça de Shakespeare, Julieta afirma que, mesmo que tivesse outro nome, uma rosa continuaria a ter o mesmo perfume. Será que é realmente assim?
A obra de Yao Feng parece colocar esta questão de um modo radical. A especificidade da sua origem e condição é extraordinariamente expressiva: Yao Feng nasceu na China e desenvolveu o domínio da língua portuguesa ao ponto de ser hoje um dos principais tradutores entre estes idiomas e, caso único entre os poetas chineses, produzir poesia diretamente em português.
É como se a poesia reclamasse uma língua própria para a construção do seu universo exclusivo. A poesia, como um território autónomo, como uma região administrativa especial, onde se cruzam referências históricas e culturais de um modo comparável ao que acontece em Macau, onde Yao Feng vive há mais de duas décadas.
A partir do Brasil, chegar a Macau e à China através da poesia, através do olhar deste importante autor. Eis a importante viagem que este livro propõe. Nas palavras, o outro lado do mundo é aqui.
Ao longo destas páginas, encontramos uma língua que é, ao mesmo tempo, cotidiana e rara, que nos catapulta para muito longe num único verso, que nos desconcerta. Será que uma rosa com outro nome teria o mesmo perfume? Sobre rosas, Yao Feng escreve: “na loja de metáforas/em saldo as rosas//mas escolhi uma pedra.”
José Luís Peixoto
Na famosa peça de Shakespeare, Julieta afirma que, mesmo que tivesse outro nome, uma rosa continuaria a ter o mesmo perfume. Será que é realmente assim?
A obra de Yao Feng parece colocar esta questão de um modo radical. A especificidade da sua origem e condição é extraordinariamente expressiva: Yao Feng nasceu na China e desenvolveu o domínio da língua portuguesa ao ponto de ser hoje um dos principais tradutores entre estes idiomas e, caso único entre os poetas chineses, produzir poesia diretamente em português.
É como se a poesia reclamasse uma língua própria para a construção do seu universo exclusivo. A poesia, como um território autónomo, como uma região administrativa especial, onde se cruzam referências históricas e culturais de um modo comparável ao que acontece em Macau, onde Yao Feng vive há mais de duas décadas.
A partir do Brasil, chegar a Macau e à China através da poesia, através do olhar deste importante autor. Eis a importante viagem que este livro propõe. Nas palavras, o outro lado do mundo é aqui.
Ao longo destas páginas, encontramos uma língua que é, ao mesmo tempo, cotidiana e rara, que nos catapulta para muito longe num único verso, que nos desconcerta. Será que uma rosa com outro nome teria o mesmo perfume? Sobre rosas, Yao Feng escreve: “na loja de metáforas/em saldo as rosas//mas escolhi uma pedra.”
José Luís Peixoto