A partir da prisão em casa em 2020, Ana Costa permitirá que sua mão receba os ditados de outro lugar, de outros tempos, para escrever com o sonho: "Era um telhado... dentro de um quarto." A imagem, "linda construção do inconsciente", transpõe os limites entre dentro e fora, entre sonho e teorização, entre medo e salvação. A imagem dá permissão para navegar em terra, para voar no mar, para caminhar no ar. O que, neste livro, se faz com o sonho, com a literatura, com as imagens, evoca o ponto em que Jacques Lacan situou uma das linhas de força de transmissão da escrita freudiana, qual seja: sua liberdade formal. Antes de Marcel Proust fazê-lo na literatura, o gesto de invenção da psicanálise pelo Shakespeare da noite rompe as fronteiras que segregavam o discurso científico, o discurso autobiográfico, o ensaio e a literatura. A forma deste livro, desde seu título, segue esses rastros para elevar o horror à dignidade de palavra. Para fazer da casa uma ruína em que os cacos, irreversíveis e insubstituíveis, escreverão um recanto de leitura que flutua no telhado, navega em águas terrenas, se protege no mar, faz amor com o sonho.
A partir da prisão em casa em 2020, Ana Costa permitirá que sua mão receba os ditados de outro lugar, de outros tempos, para escrever com o sonho: "Era um telhado... dentro de um quarto." A imagem, "linda construção do inconsciente", transpõe os limites entre dentro e fora, entre sonho e teorização, entre medo e salvação. A imagem dá permissão para navegar em terra, para voar no mar, para caminhar no ar. O que, neste livro, se faz com o sonho, com a literatura, com as imagens, evoca o ponto em que Jacques Lacan situou uma das linhas de força de transmissão da escrita freudiana, qual seja: sua liberdade formal. Antes de Marcel Proust fazê-lo na literatura, o gesto de invenção da psicanálise pelo Shakespeare da noite rompe as fronteiras que segregavam o discurso científico, o discurso autobiográfico, o ensaio e a literatura. A forma deste livro, desde seu título, segue esses rastros para elevar o horror à dignidade de palavra. Para fazer da casa uma ruína em que os cacos, irreversíveis e insubstituíveis, escreverão um recanto de leitura que flutua no telhado, navega em águas terrenas, se protege no mar, faz amor com o sonho.